Janmaushadhi mantra tapah samádhi jáh siddhayah 4-1
Os poderes (siddhi) resultam do nascimento,de ervas,de mantras, da ascese ou do êxtase.
DeRose: Os siddhis podem ser obtidos por nascimento,por meio de ervas medicinais,por vocalizações,pela auto-superação ou pelo samádhi.
Comentário: Esse aforismo deveria fazer parte do capítulo anterior .Sua colocação atual pode ser explicada pelo fato de os comentadores não terem compreendido o conteúdo e a intenção dos primeiros sútras deste capítulo.
Jaty antara parinámah prakrty epúrát 4-2
A transformação em uma outra espécie (játi)[é possível] em virtude da super superabundância da Natureza.
DeRose:A transformação evolutiva é causada pelo fluxo da Prakrti(a Natureza)
Comentário : Em geral,compreendem-se este aforismo e os seguintes como uma referência ao poder mágico de criar um corpo-mente artificial para qual o Yogin transfere o seu próprio karma. A leitura cuidadosa dessa seção ,porém , aponta para uma interpretação mais filosófica .Ao que parece ,Patañjali está explicando aqui o processo de individuação ,na medida em que se explica ao próprio cosmo.
Nimattam sprayôjakam prakrtínám varana bhêdas tu tatah kshêtrikavat 4-3
A causa ocidental (nimatta) )não desencadeia as criações( prakrti), mas é [responsável]tão somente pela]seleção das possibilidades - como um lavrador [que,para irrigar um campo ,escolhe os melhores caminhos para a água]
DeRose:As ocorrências incidentais não são as causas diretas da transformação evolutiva,mas atuam na remoção dos obstáculos às tendências da Natureza,assim como o agricultor remove os obstáculos do riacho para que as aguas sigam seu curso natural.
Nirmána chittany asmitá mátrát 4-4
As consciência s individualizadas(nirmána-citta)[procedem] da noção essencial de eu (asmitá -mátra)
DeRose : Asmitá(noção do Eu,egotismo) é a causa primal dos vários aspectos da consciência .
Pravrtti bhêdê prayôjakam chittam êkam anêkeshám. 4-5
[Embora as diversas consciências individuadas se dediquem]a atividades distintas, a consciência única(êka)é a origem de [todas]as outras.
DeRose: Embora tenhamos vários aspectos de chitta ,todos são emanados de um único.
Tatra dhyánajam anáshayam. 4 -6
Dentre essas [consciências individuadas , a consciência que ]nasce da meditação não leva depósito[kármico]
DeRose::Dentre todos ,aqueles nascidos da meditação não tem resíduos (Kármicos )
karmáshuklákrshnam yôginas trividham ítarêshám. 4-7
O Karma de um yogin não é preto ,nem branco ; para os outros ,é triplice[i.e,mesclado]
DeRose: Para o Yogin o karma não é branco nem negro:para os demais é de três tipos.
Tatas tad vipákánugunánám êvábbhivyaktir vásanánám. 4-8
Daí [segue-se] a manifestação somente [no fundo da consciência] daquelas características(vásanás)que correspondem `a frutificação do seu [Karma particular]
DeRose: Desses três tipos ,somente manifestam-se aqueles que encontram em condições favoráveis nos vásanás(indutores sub conscientes das ações automáticas): à sua função .
Játi dêsha kála vyavahitánám apy ánantaryam smrti samskarayôr êkarúpatwát. 4-9
Devido à uniformidade entre a memória[profunda] e os ativadores(samskára),[existe]uma continuidade[entre a causa Karmica e a manifestação dos ativadores subliminares], muito embora[causa e efeito] possam estar separados por lugar , tempo e espécie.
DeRose; Devido aos samskáras e as memórias deles serem idênticos ,eles tem uma relação ininterrupta,apesar de serem separados por tipo,local e tempo.
Comentário : Este aforismo mostra,de modo bastante obscuro ,que o vinculo Kármico que liga a existência passada e a vida presente de um ser não é arbitrário. E preservado pelos ativadores subliminares(samskáras) .Isso significa que ninguém sofre injustiças do Karma .Cada ser colhe o que semeou em suas vidas anteriores .
Tásam anáditwam cháshishô nityatwát. 4-10
E esses [ativadores no fundo da consciência ]não tem princípio,devido a perpetuidade da vontade primordial [inerente à natureza]
DeRose: Eles (os samskaras)não tem princípio,pois o desejo de viver é eterno.
Hêtu phaláshrayálambanaih samgrhítatwád êshám abhávê tad abhàvah 4-11
Devido ao vínculo[ que liga as marcas no fundo da consciência ]à causa[kármica], ao fruto,ao substrato ,e ao suporte,[segue-se que] ,com o desaparecimento desses [fatores],desapareçam [igualmente ]aquelas[marcas]
DeRose :Como os samskáras são mantidos juntos devido à causa,efeito,essência e suporte, a eliminação conduz à daqueles .
Atítanagatam swarúpato sty adhva bhêdhád dharmánám. 4-12
O passado e o futuro existem enquanto tais por causa da diferença [visível]nos caminhos [de desenvolvimento]das formas(dharma)[produzidas pela Natureza.
DeRose: O passado e o futuro são da mesma natureza e as diferenças entre eles são devidas às condições (temporais) de suas características .
Tê vyakta súkshmá gunátmánah 4-13
Essas formas são manifestas ou sutis e são compostas das [três]qualidades(guna)
DeRose: Elas(as características) são manifestadas ou sutis,conforme os gunas.
Parinámaikatwád vastu tattwam. 4-14
O caráter próprio (tattwa) de um objeto advém da homogeneidade das transformações [das qualidades(guna)primárias da Natureza]
DeRose: A objetivação dos elementos decorre da unidade do processo evolutivo(parinámaikatwád).
Vastu sámyê chitta bhêdát tayôr vibhaktah pantháh 4-15
Em vista da multiplicidade de consciência.[por um lado ], e da unicidade dos objetos [percebidos ,por outro], uma e outra coisa[pertencem a ]diferentes níveis [da existência].
DeRose:Sob estruturas diferentes ,chitta adquire noções discrepantes a respeito de um mesmo conceito ou objeto.
Na chaika chitta tantram chêdvastu tad apramánakam tadá kim syát. 4-16
E o objeto não é dependente da uma única consciência ;é impossível provar isso;ademais,o que poderia ser [um tal objeto imaginário?]
DeRose:No entanto, a existência de um objeto não depende da percepção de um único chitta (êka chitta tantram) ;o objeto deixaria de existir se não fosse percebido?
Comentário : Esse aforismo não consta de alguns manuscritos originais ;é muito provável que seja tirado do Yoga Bhashya de Vyása . A idéia que se expressa aqui é de que os objetos têm uma existência independente.Está implícita ai uma rejeição do idealismo radical de certas escolas do Budismo Maháyána .
Tad uparágápêkshitwách chittasya vastu jñatájñatam. 4-17
Um objeto é conhecido ou desconhecido em virtude da necessária "coloração!(uparága) da consciência por esse[ objeto ]
DeRose: O objeto é conhecido ou desconhecido para a consciência ,dependendo do colorido com que a impregne.
Sadá jñátash chitta vrttayas tat prabhôh Púrushasyáparinámitwát. 4-18
As flutuações da consciencia sempre são conhecidas pelo que lhes é "superior ",em virtude da imutabilidade do Si - Mesmo
DeRose:Os chittas vrttis são sempre conhecidos pelo seu senhor , o Púrusha, por que ele é imutável.
Comentário: O Si- Mesmo transcendente ,que não sofre mudanças , é concebido como superior às formas e mundos mutáveis da Natureza na qual se inclui a consciência finita
Na tat swábhásám drshyatwát . 4-19
Essa [consciência] não tem luz própria ,uma vez que é vista [pelo Si -Mesmo ]
DeRose: Suscetível de ser observável pelo Púrusha,chitta não pode observar - se a si mesmo .
Comentário : O pensamento indiano tem como ponto pacifico que somente o Si-Mesmo brilha com luminosidade própria ao passo que a consciencia finita ou empírica ,à semelhança da lua,é iluminada por uma luz que não é sua .
Êka samayê chôbhayànavadháranam. 4-20
E [isso implica]a impossibilidade de conhecer ao mesmo tempo [a consciencia e o objeto ]
DeRose:Não é possível concentrar-se ao mesmo tempo nos dois ,Púrusha e chitta.
Chittántara drshyêr buddhi buddher atiprasangah smrti samkarash cha 4-21
Se a consciência fosse percebida por outra [consciência ], [isso implicaria uma ]regressão[infinital]de cognição(buddhi)e cognição,e a confusão da memória.
DeRose:Se a percepção de um chitta fosse realizada por outro chitta (chittantara) resultaria um interminavel(atiprasangah)conhecimento do conhecimento(buddhi buddher),assim como a confusão da memória (smriti samkarash)
Chitêr apratisamkramáyás tad ákárápattau swa buddhi samvêdanam. 4 -22
Quando a atenção (citti) imutável assume a forma dessa[consciência],[torna-se possivel]a apreensão,pelo entre, das suas próprias cognições .
DeRose; Quando chitta se detém e não reflete nemhum objeto, passa se refletir o vedor ,que é imutável ,e isso conduz ao auto- conhecimento(swa-buddhhi)
Drashtr drshyôparaktam chittam sarvartham. 4-23
[Se]a consciencia for"colorida"pelo Que Vê e pelo Que É Visto ,[ele pode perceber]qualquer objeto.
DeRose: Chitta,colorido pelo Vedor e pelo visível,compreende todas as coisas .
Comentário: Para que exista a consciencia Humana comum,é preciso que o Si-Mesmo transcendente (O que Vê) e a Natureza(Oque É Visto) em suas inúmeras formas estejam presentes.
Tad asamkhyêya vásanábhish chiram api parártham samhatya káritwát. 4-24
Essa[consciencia],embora matizada de inúmeras marcas(vásanás),não tem a sua finalidade em si mesma ,na medida em que [se limita a exercer]uma atividade colaboradora.
DeRose; O chitta, embora pleno de inúmeras tendências ,atua para um outro (o Purusha),pois que só pode atuar em combinação com ele .
Comentário : Embora a consciência (finita ) seja um mecanismo da Natureza ,ela partilha da grande endencia da Natureza ao desenvolvimento ,tendencia essa que,em última análise ,é a que leva à Libertação ou à realização do Si-Mesmo.
Vishêsha darshina átma bháva bhávaná nivrttih. 4-25
Para aquele que vê a distinção[entre o Si-Mesmo e o sattwa,sobrevém]o fim da projeção da[falsa]noção de ser o Si Mesmo (átma-bháva).
DeRose: Aquele que entende esta distinção ,deixa de interpretar a mente como sendo o Vedor.
Tadá vivêka nimnam kaivalya prágbharam chittam. 4-26
Então a consciência ,tendente ao discernimento, é transportada adiante,rumo à solidão(kaivalyan)da[Potência da Visão].
DeRose: Então, chitta torna-se inclinado ao discernimento e gravita em direção à libertação
Tach chidrêshu pratyayántaráni samskárêbhyah 4-27
Nos lapsos dessa[consciência em processo de involução],outras idéias [novas podem surgir]a partir dos ativadores[no fundo da consciência]
DeRose: Intermitentemente ,surgem pensamentos dispersivos devido aos samskáras.
Hánam êshám klêshavad uktam. 4-28
O fim dessas [idéias se realiza pelo menos meios]já mencionados[no aforismo 2-10]em relação as causas da aflição(klêsha)
DeRose: A destruição deles é feita da mesma forma mencionada anteriormente para os obstáculos.
Prasamkhyáne py akusídasya sarvathá vivêka khyatêr dharma mêghah samádhih 4 -29
Para o [yogin que ,mesmo nesse estado excelso ],nunca tira partido disso para quaisquer fins,[segue-se],através da visãodo discernimento,o êxtase chamado de "nuvem do dharma"(dharma- mêgha)
DeRose: Aquele que renunciar até o próprio interesse em obter o estado de Hiperconsciência recebe,como resultado da perfeita discriminação ,o samádhi denominado dharma mêgha.
Comentário: Não esta claro o sentido preciso do termo dharma nessa passagem.
Alguns tradutores verteram-no por "virtude";mas nesse nível de realização extática,não se pode qualificar o yogin nem como virtuoso,nem como não virtuoso .Ele já transcendeu as categorias da vida ordinária O mais apropriado é compreender dharma como referência à Realidade primordial,como acontece em certos contextos budistas.Em outras palavras,como a consumação da visão do discernimento, o yogin fica como que envolvido pelo Si Mesmo.Esse êxtase é uma fase de transição que elimina de vez a ignorância espiritual e, junto com ela ,todas as suas lamentáveis conseqüências (tais como Karma e o sofrimento);o acontecimento da libertação segue-se imediatamente.
Tatah klêsha karma nivrttih 4-30
Então,[segue-se] o fim das causas da aflição(klesha)e do Karma.
DeRose: Daí decorre o desaparecimento do sofrimento e do karma .
Tadá sarvávarana malápêtasya jñánasyánantyáj jñêyam alpam.-4-31
Então,removidos todos os véus de imperfeição ,pouco [resta]a se conhecer ,em virtude da infinitude da sabedoria[resultante]
De Rose:Então ,com a remoção de todas as impurezas e invólucros , o conhecimento torna-se infinito , e o que resta para ser conhecido torna-se insignificante.
Tatah Krtárthánám parináma krama samáptir gunánam. 4 -32
Então interrompem- se as seqüências nas transformações das qualidades (guna )[da Natureza] cuja finalidade foi alcançada.
DeRose:Havendo cumprido seu propósito que é a evolução, os guna(s) deixam de existir .
Kshana pratiyôgí parinámáparánta nirgráhyah kramah 4-33
Sequência é [aquilo que é]correlativo ao movimento [de tempo] e apreensível no fim extremo de uma transformação [particular]
DeRose: Krama é a sucessão dos momentos (klêsha)e esse processo é compreendido no final da evolução.
Purushártha shúnyánam gunánam pratiprasavah kaivalyam swarúpa pratishthá vá chiti shaktir iti . 4-34
A involução (pratisarga) das qualidades (guna),[que ja],não tem serventia para o Si-Mesmo,é[o que se chama]a solidão[da potencia da visão],ou a firmeza do poder da Atenção (citt-shakti)em sua forma essencial .
DeRose: Kaivalya (libertação ) é o estado em que os gunas entram em equilibrio e se esvaziam ,não tendo mais utilidade para o Púrusha ;é o estavbelecimento do poder da consciencia em sua própria natureza .
Comentário: Com a realização do Si-Mesmo ,ou libertação ,as qualidades (guna)fundamentais do corpo-mente do adpto já não tem finalidade e , portanto ,sao aos poucos reabsorvidas pelo fundamento transcendental da Natureza.Isso quer dizer que, para Patáñjali ,a realização do Si-Mesmo coincide com a morte do corpo- mente finito . O que resta é a Testemunha eterna , o Poder da Atenção, O SI- Mesmo .
Fim.
Olá visitantes
Comece lendo esse blog de baixo para cima
primeiro o Sámkhya e depois os sútras de Pátañjali .
Os sútras estão primeiro na sua lingua original (sânscrito ) acompanhado das traduçôes de George Feuerstein e Mestre DeRose .Em seguida em alguns sútras comentários de George Feuerstein e comentarios meus
Espero que seja de grande utilidade para aqueles que buscam a verdade e a compreensão da sua existencia.
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quinta-feira, maio 21, 2009
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